5 de outubro de 2010

Desventuras de uma artista perturbada.

Não sei se o ‘problema’ sou eu, deve ser. Mas a Música é algo magnífico demais para mim. Sempre senti isso. Minha mãe me conta sobre quando eu tinha uns três aninhos… Reunião de família, almoço na casa da vovó, primos nos quartos dos tios mais novos… Ela conta que eu chegava chorando muito do nada. Ela perguntava: “O que houve, minha filha?”, eu dizia: “Música triste!”, numa vozinha errada e gemida. É, a Música sempre me afetou muito. Ela muda meu humor. Sim, ela tem esse lindo poder sobre mim. Depois da fase “musca tiste” - que inclui todos os dias escutando clássica e dançando ballet assim que chegava da aulinha - comecei a estudar piano, comecei a me musicalizar, de verdade. Eu ia bem. Tinha um ouvido musical maravilhoso. Mas eu era desleixada e preguiçosa - sim, desde criança. E pensava que o piano tinha a obrigação de me fazer tocar bem. Quando descobri que ele não faria isso, parei de tocar. Eu era uma criança ridiculamente idiota e mimada, mesmo. Foi o segundo pior erro da minha vida. Foi então que comecei a pintar - sim, pintura em tela com tinta a óleo - e fazer aulas de teatro. Pintei e atuei por uns dois anos e parei porque era irresponsável ao ponto de precisar sacrificar o tempo da pintura e do teatro com estudo - ou fingimento. Então, parei o piano, parei a pintura, parei o teatro, mas a dança continuava. Eu comecei a dançar aos quatro de idade. E a dança te dá rítimo, mesmo que não dê musicalidade em si. E com o sapateado fui me mantendo bem na questão do rítimo - bem pra quem não estudava mais música. Então, - depois de uns quatro anos - com todos os olhares irresistíveis que meu piano me dava todos os dias, resolvi voltar a tocar. Tarde demais? Talvez, mas eu tentei. Tentei e venho tentando. Dancei por cerca de dez, onze anos de minha vida, parei com quinze anos. O motivo? Fui desestimulada por certa situação e negligente com certa outra - ou seja, burrice. Mas eu sinto falta, sim, da dança. Impossível não sentir quando se dança desde os quatro. Mas, mais ou menos aos treze anos, comecei a ler. Me envergonha ter começado tão tarde, mas é fato. E, começando a ler, comecei a escrever. E ler e escrever, hoje, nem parecem mais atividades. São hábitos, hábitos necessários. Voltei a tocar não faz muito tempo, mas já consigo ler, mesmo que com dificuldade, bastantes músicas. Não, nunca é o bastante. Digamos que minha leitura não é de toda ruim. Mas aí, a vida me puxou a orelha. Pensando no futuro, pensando em profissão, vim ao Canadá estudar inglês. Parei minha música, de novo, e isso me tortura. Porque sinto que já perdi tempo o suficiente. Não me sinto musicalizada o suficiente, não me sinto culta musicalmente. E esse é meu anseio, ou um deles. O estudo de línguas estrangeiras é um deles, mas é difícil balancear. Penso em voltar a pintar, penso em aprender a cantar, penso em aprender a tocar mais uns três instrumentos, e penso em estudar alemão enquanto estiver na faculdade de Letras. O que será de mim, dos meus anseios? Um ano como o próximo requer estudo absurdo o bastante pra não me permitir nada disso. E mesmo que eu entre numa faculdade, preciso me dedicar porque não há muitas portas no mercado de trabalho pra quem se forma em Letras. E meus sonhos? E os livros que escrevo e ainda quero publicar? E as músicas que quero compor? E os instrumentos que quero tocar? E os quadros que quero pintar? E as línguas que quero falar? Onde, ou quando tudo isso vai ficar? Essa é minha angústia.

4 comentários:

  1. Aí que está...
    seu problema é tempo!
    não eh vc! eh tempo!
    axo que vc precisa de umas 3 vidas pra de fato completar tudo o que quer fazer...
    é isso ou entao mudar radicalmente a dedicação e o esforço... mas e seus livros quem vai ler? suas musicas quem vai escutar? e as linguas com quem treinar? eu neh?!
    kkkkkkk pelo menos palhaço eu sou! bjus

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  2. Você acha mesmo que me importo com alguém que leia meus livros, ouça minha música...? Esse seria o último dos motivos de tudo o que eu farei.

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  3. Sinto-me orgulhosa por ter uma filha assim, tão sonhadora, tão cheia de talentos maravilhosos, tão inteligente, com tanto senso crítico. Você é totalmente demais!!! Sei que saberá equilibrar e organizar esse bem precioso que se chama TEMPO para conseguir se realizar, ao menos em algum desses lindos planos. Sou sua fã. Torço muuuuito por você. Oro muuuito por sua vida!

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  4. Espero mesmo aprender com a melhor. A mulher mais incrivel, que consegue ser tudo o que e e fazer tudo o que faz com exelencia. Te amo!

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